Conheci o
primeiro livro da série, Feios (Uglies) há mais de dois anos,
diretamente de uma banca na livraria Saraiva e fiquei bastante
intrigada com o livro. Eu ainda não conhecia o Scott Westerfeld, mas
a sinopse parecia bastante atraente. Claro que me perguntei o por quê
daquela pessoa bonita estampar a capa de um livro chamado Feios...
O fato é
que demorei um pouquinho para decidir comprar e acabei ganhando do
meu então namorado e, ainda, enrolei um pouquinho para começar a
leitura. Uma perda de tempo, eu diria. Não a leitura, mas a preguiça
que eu tinha de começar a ler. A história é aquela que te faz
dizer: por que não pensei nisso antes? Os absurdos são tão
alheios, mas ao mesmo tempo, tão facilmente associáveis ao que
consideramos normal hoje, que é impossível não entrar em colapso
socio-existencial.
No mundo
futurístico de Tally Youngblood, a imperfeição só existe até os
dezesseis anos de cada pessoa. Após seu aniversário, a cada dia
mais próximo, Tally passará por um procedimento cirúrgico do qual
sairá perfeita e, totalmente, diferente. A verdade é que até
completarem dezesseis, garotos e garotas vivem em um lugar chamado
Vila dos Feios, que funciona como um acampamento contínuo enquanto
não estão aptos para morar em Nova Perfeição, a cidade das festas
e noites borbulhantes e, também, onde vivem os jovens perfeitos.
Tally está ansiosa pela mudança, mas Shay, uma nova amiga, lhe faz
acreditar que a transformação não é o que parece. A amiga
acredita que existe todo um mundo lá fora e que a verdade pode não
ser o que está em seu nariz. Ao que parece, David, um amigo de Shay
vive na Fumaça, um lugar de refúgio para os desgarrados e foras da
lei, lhe convidara a desistir do procedimento e mudar-se para lá.
Shay parece muito convicta de sua decisão, mas Tally não só
desconfia da palavra de um desconhecido, como também quer a
transformação. Em algum momento, Shay desaparece e, Tally decide
procurar pela amiga e se arrisca em uma missão, quebrando regras e
seguindo as coordenadas que poderão levá-la à Fumaça, ou ao que
quer que seja.
De fato,
a Fumaça existe e com esta, muitas outras verdades desconhecidas.
Vivendo ao lado de pessoas feias, imperfeitas, Tally acaba
descobrindo uma forma de aceitar a imperfeição, mas as regras já
foram quebradas e as autoridades da civilização perfeita estão
tentando impedir que a história seja contada...
O que
mais me agrada no livro é a forma como Scott aborda o tema da
tecnologia, em como nos tornaríamos reféns dela e até que ponto
nos é favorável. A beleza que os Feios tanto almejam não é apenas
física, mas também o que se pode adquirir com isso. Quando se
tornam perfeitos, os jovens passam a viver numa cidade incrível,
curtindo festas inacabáveis e sem responsabilidades. Mas tudo não
passa de camuflagem, pois as autoridades fazem muito mais do que
tornar-lhes bonitos e saudáveis, já que os perfeitos se tornam,
também, controláveis. Um fator interessante é que não se pergunta
se a pessoa quer abrir mão da beleza e viver naturalmente, na
verdade, isto nem sequer é questionado até que Shay surge com a
ideia, que também não é inteiramente dela.
O enredo
é muito bom, mas como eu já esperava, não se aborda muito
sentimento ou emoção, tudo é apenas uma leve sugestão, já que
temos uma narrativa em terceira pessoa. As pessoas são mesmo
parecidas com robôs, e é visível a necessidade de tal atitude, já
que os Enferrujados (antiga civilização falida e destruída) não
se saíram bem permitindo que fossem dominados pelas emoções. Outro
fato interessante sobre o livro: não termina como você imagina.
Pelo menos não como eu imaginava.
Não
posso resumir o livro sem soltar spoilers dos
seguintes, então serei cuidadosa no que couber, resumindo,
brevemente, os próximos volumes da série: Perfeitos (Pretties),
Especiais (Specials) e Extras.
Em
Perfeitos, Tally acaba de passar pela cirurgia que lhe permite ser
linda, saudável e feliz. Tudo o que viveu na Fumaça já não faz
parte de suas lembranças, mas
ela ainda quer estar borbulhante. Assim, junto de velhos e novos
amigos, Tally faz parte dos Crims, um grupo de perfeitos travessos,
que buscam diversão, assim como quando eram feios, e fazem de tudo
para manterem-se borbulhantes. Tudo é diversão, mas Tally começa a
despertar para uma realidade não tão divertida assim. As
autoridades estão de olho nos habitantes da cidade e, algo ou alguém
tenta lhe dizer que ela tem algo a ver com tudo isso. Daí em diante,
ela reconhecerá um passado não muito distante e perdas
inestimáveis, tudo em prol da sobrevivência. Muita
coisa acontece, até mesmo um romance improvável e que acaba se
tornando bonitinho, mas ainda sem sentimento. Existe uma possível
cura para cabeças de vento, termo dado por mim para os perfeitos
devido à sua falta de senso crítico e social. Assim, Tally e o
líder dos Crims, Zane, decidem que a cura deve ser passada adiante,
mas obviamente, coisas dão errado e não será nada fácil para
Tally encarar seu destino.
Em
Perfeitos, consegui visualizar uma pouco mais de atitude da parte de
tally, embora tenha sido, novamente, impulsionada por outra pessoa. O
livro é mais obscuro do que o primeiro e, só agora, se pode
perceber o quanto as autoridades falam sério e o quanto a rebeldia é
um mal necessário. Um novo personagem rouba a cena e quase nos
arranca lágrimas. Quase. Como eu disse, ainda falta sentimento para
tanto. O final é e não é surpreendente, mas infelizmente ficarei
devendo explicações quanto ao que digo, e realmente me deixou com
raivinha.
Com
o final de Perfeitos, não esperei muito de Especiais. Não que eu
duvidasse da capacidade de Scott em me “chocar na maciota”, mas
eu já não tinha expectativas quanto ao final que eu desejava. E não
deu outra. Especiais nos mostra uma Tally curta e grossa, cujo lema é
“Não quero te machucar, mas farei se for preciso”. Ela, agora, é
uma especial, espécie de soldado imbatível e impassível das
Circunstâncias Especiais, cuja força controla os demais, abafando
também, possíveis rebeliões. As lembranças do que viveu na Fumaça
não lhe são escondidas, mas ela já não se importa e tudo o que
quer é combater os insurgentes, de forma eficaz. Logo, ela está na
Nova Fumaça para impedir seu
avanço... novamente, as coisas dão errado, ou certo, depende do seu
ponto de vista.
Acho
que não vale a pena falar sobre as sequências de Feios por um único
motivo: elas se completam de uma forma que torna impossível não
deixar um emaranhado de fatos e detalhes na sua cabeça, se você
tiver lido os três. Contudo, Extras, cujo personagem-foco deixa de
ser Tally e passa a ser Aya, narra o depois de toda a história de
Tally e suas consequências. Neste quarto volume, as pessoas não são
mais avoadas (cabeças de vento, segundo eu mesma), mas
ainda vivem pela tecnologia e fama. Tally
Youngblood é uma lenda respeitada por todos e pode estar de olho em
você, agora mesmo. Extras tem um ar sobrenatural e só lendo para
entender o porquê. Aya pretende ser reconhecida e subir seus pontos
de popularidade, mas ao conhecer garotas bem radicais e segui-las
para relatar suas aventuras, acaba se deparando com um mistério que
pode ser o grande furo. Um suspeito movimento nas montanhas e
aparição de criaturas estranhas pode levá-la a uma descoberta
inimaginável, mas também perigosa.
Acho
engraçado como em Extras as pessoas não são mais avoadas, pois
para mim, continuam bem cabeças de vento, só alteraram o foco. Os
personagens ainda não passam muito deles para o leitor, mas a
crítica social está de pé e a todo vapor. É realmente difícil
imaginar um mundo no qual as pessoas fazem de tudo para serem
populares, certo? Então... o que temos neste quarto volume da série
é mais um punhado de detalhes de uma vida baseada em tecnologia e
egocentrismo, cercada das futilidades cotidianas. O ser humano já
atingiu um patamar tão alto no quesito avanço tecnológico que não
existem mais metas, até que novos visionários surgem.
Gosto muito da aparição de Tally na história, mostrando que ela
não é apenas uma lenda e, mais uma vez, sentimos, imaginariamente,
as consequências de ter sido especial.
De
forma clara, só posso afirmar que a série de Scott Westerfeld é
realmente boa. Você pode discordar, eventualmente, mas não pode
negar que ele conseguiu adaptar e criar, ao mesmo tempo. Gosto do fim
de cada livro por um motivo simples: não tem que ser como eu quero.
E, apesar de suas finalizações não agradarem aos românticos ou
idealizadores, as coisas também não terminam tão mal, ou melhor,
simplesmente não terminam.
Devo
dizer, antes de encerrar o post, que a Galera Record arrasou na
produção das capas. Acho que são as mais bonitas de todas as
edições pelo mundo. Tenho pavor das capas americanas...
muito bom <3
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