Pegue uma fanfiction bem-sucedida de
Twilight (Crepúsculo), altere o nome e características dos
personagens principais, transforme a história resultante em livro e
publique sem qualquer preocupação com forma e acabamento. O
resultado dessa reunião de fatores é um dos maiores fenômenos da
literatura popular contemporânea, ou seja, Cinquenta Tons de Cinza
(Fifty Shades of Grey), publicado no Brasil pela editora Intrínseca.
Irônica e decepcionante, a situação fica ainda pior quando descobrimos um teor erótico mal descrito e fraco, que não acrescenta nada, nem mesmo ao leitor mais inocente do mundo.
Anastasia Bella Swan Steele é uma
universitária desastrada, inexperiente e quieta que se conforma em manter um bom
comportamento e não fazer qualquer coisa fora de sua rotina. Tudo
começa a mudar quando sua amiga adoece e precisa ser substituída em
uma entrevista para o jornal da faculdade. A pessoa a ser
entrevistada é ninguém menos que o jovem e bem-sucedido Christian
Grey e, já em seu primeiro encontro, Ana quase põe tudo a perder
com perguntas indiscretas para as quais não estava preparada.
Felizmente, Grey acha interessante o comportamento da jovem e se
mostra muito gentil e atencioso. Aos poucos, novos encontros começam
a demonstrar toda a tensão entre os dois e eles já não podem se
evitar.
De um lado, Ana, um peixe fora d'água
no mundo adulto e bem-resolvido; de outro, Christian, um ás no mundo
da luxúria e outras coisinhas mais. O óbvio e absurdo acontece,
eles se apaixonam. Agora, ela tem que mudar a forma como vê a vida
para estar com ele, enquanto o mesmo diz que ela deve concordar com
certos termos contratuais (e escritos!) se aceitar ficar a seu lado.
A pobre garota inocente se vê em dúvida, pois o que o jovem
milionário propõe são situações muito peculiares, que revelam
que o cara é, simplesmente, um maníaco. Daí para frente, a
história só fica pior. Ana se recusa a assinar qualquer acordo, por
medo ou frescura (vai saber!), mas consegue que Grey faça,
praticamente, todas as suas vontades.
O homem maduro e dominante se torna o
garotinho inseguro que precisa pedir desculpas depois de dar uma
surra na namorada. A garota inocente e insegura leva o cara na
conversa até o final. Ele não abre mão de seus rituais
sadomasoquistas e ela concorda, tacitamente, com quase tudo. É uma
loucura de contradições e detalhes sem-noção que não chocam ou
causam polêmica alguma. Temos um Edward Cullen mandão e humano e
uma Bella Swan Bella Swan (isso mesmo). Não há nenhuma novidade nas
cenas calientes e você fica
esperando a grande cartada final, mas esta não vem.
O
livro é uma tentativa bem-sucedida (infelizmente) de apresentar um
romance adolescente às mulheres adultas. Confesso que quando comecei
a ler pensei que Christian era um vampiro e que a parte erótica era
só uma pegadinha da sinopse. Não sei como se pode transformar algo
como esta
história em uma trilogia. Não é possível trazer novos fatos e
desenvolvê-los bem sem que haja drama, o que não é o caso mesmo,
então...
P.s: Esta resenha não deve ser levada a sério, já que todos
os livros da trilogia são líderes em venda. Contraditoriamente, se estou fazendo uma resenha é porque não é tão
insignificante. Leitura é leitura, certo?
Eu peguei o livro emprestado com um amigo que comprou mas desistiu de ler logo nos primeiros capítulos. Acabei concluindo o que eu já sabia: o livro é sem graça e sem enredo nenhum. Nem as partes de sexo salvaram o livro da desgraça, além do livro ser (muito) clichê. Até agora eu to tentando entender todo esse sucesso e atenção que o livro recebeu.
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