Resenha: Eu estive aqui – Gayle Forman


Quando sua melhor amiga, Meg, toma um frasco de veneno sozinha num quarto de motel, Cody fica chocada e arrasada. Ela e Meg compartilhavam tudo... Como podia não ter previsto aquilo, como não percebera nenhum sinal?
A pedido dos pais de Meg, Cody viaja a Tacoma, onde a amiga fazia faculdade, para reunir seus pertences. Lá, acaba descobrindo muitas coisas que Meg não havia lhe contado. Conhece seus colegas de quarto, o tipo de pessoa com quem Cody nunca teria esbarrado em sua cidadezinha no fim do mundo. E conhece Ben McCallister, o guitarrista zombeteiro que se envolveu com Meg e tem os próprios segredos. Porém, sua maior descoberta ocorre quando recebe dos pais de Meg o notebook da melhor amiga. Vasculhando o computador, Cody dá de cara com um arquivo criptografado, impossível de abrir. Até que um colega nerd consegue desbloqueá-lo... e de repente tudo o que ela pensou que sabia sobre a morte de Meg é posto em dúvida. Eu estive aqui é Gayle Forman em sua melhor forma, uma história tensa, comovente e redentora que mostra que é possível seguir em frente mesmo diante de uma perda indescritível.



Eu Estive Aqui (I Was Here), escrito pela aclamada autora Gayle Forman (Se Eu Ficar e Apenas um dia) é lançamento de junho da Editora Arqueiro. O romance aborda o drama do suicídio e as consequências de tal ato na vida daqueles que ficam. É um drama jovem que traz um importante alerta acerca de algo nada fictício como pano de fundo.



Que livro! Se eu tinha dúvidas de que a escrita de Forman chegaria a algum lugar, acabo de saná-la. Eu estive aqui segue a mesma linha dos outros romances da autora, porém desta vez, conseguiu me atingir em cheio. Por alguma razão, dramas envolvendo suicídio estão em alta na literatura (ou talvez eu só esteja conhecendo-os agora). Ao contrário dos outros livros da autora, que gostei apesar de pequenos pesares, este livro possui uma narrativa ágil, onde muito acontece em pouco tempo, de forma a nunca soar maçante. Até uma pequena obsessão por vaga-lumes torna a coisa um tanto encantada…



Começou no nono ano, quando ela comprou um single em vinil de uma banda chamada Heavens to Betsy (...)Depois de descobrir a Heavens to Betsy, Meg tomou para si a missão de encontrar todas as canções boas sobre vaga-lumes. No melhor estilo Meg, em poucas semanas ela já havia reunido uma lista gigantesca.”



Meg, aluna, filha e amiga perfeita, resolveu dar fim à própria vida, deixando pequenas mensagens para seus entes queridos. Cody, a melhor amiga, fica chocada ao receber a notícia, pois Meg jamais dera qualquer indício de estar infeliz, quanto mais a esse ponto. A culpa é um sentimento indesejado para Cody, que definitivamente acha que deveria ter notado algo. Assim, ela vai até a Tacoma, a cidade onde Meg estava morando e cursando a faculdade. Cody jamais se interessara pelos colegas de república de Meg e nem mesmo gostara muito de visitá-la por lá, mas agora, ela decide investigar o que pode ter levado a amiga a atitude tão drástica. Nesse interím, ela acaba descobrindo que Meg não era bem a garota que ela conhecia e que algo muito grave estava acontecendo.

A narrativa sob o ponto de vista de Cody é ágil, mas nada vazia em emoção. Os fatos vão acontecendo rapidamente, e a autora não perde tempo em descrever momentos parados, deixando que a passagem necessária de tempo se desenrole de forma objetiva. Cody é a típica personagem que nunca sabe de nada. A princípio, ainda que se culpe, ela também quer culpar outra pessoa, qualquer um que possa ter desagradado Meg em algum ponto. Ben tem um passado com Meg, um que não parece ter tido bons resultados, mas ainda assim, pode ser de alguma ajuda. Ao longo da trama, Cody acaba descobrindo um fato inédito que, mais do que o pano de fundo para a história fictícia, serve também de alerta para a realidade. E se houvesse alguém instigando pessoas com mente perturbada a cometerem atos tão lesivos a si mesmos? Parece mentira, mas há gente capaz disso no mundo. Mas a troco de quê?



“– Não sei o que estou pensando. Mas tem algo de estranho nisso tudo, de suspeito. Em primeiro lugar, o fato de que Meg não era suicida. Tenho pensado muito nisso. Ainda que eu não soubesse o que estava acontecendo quando ela se mudou para cá, eu a conheci a vida inteira. E, em todos esses anos, ela nunca pensou nem falou nesse assunto. Então aconteceu alguma outra coisa. Algo que a empurrou da beira do precipício.”



A jornada de Cody não é o autoconhecimento, mas no caminho, após tanta notícia bombástica, algo nela acaba mudando também. Mesmo deixando cada descoberta lhe guiar ao próximo passo, Cody ainda é uma jovem inexperiente no mundo, acostumada a sonhar muito pouco, ou quase nada, algo que dá uma certa tristeza de ler. Suas expectativas pela vida são tão baixas que fariam sentido se fosse ela a suicida da história, o que acaba por deixar todo o desfecho surpreendente, não pelo que acontece em si, mas pela forma que se chega lá.



“– Você precisa contar aos Garcia. Sabe disso, não sabe?

A tristeza e aculpa recaem sobre mim, tão rápido quanto um pôr do sol no inverno.

Vai partir o coração deles.

O coração deles já está partido. Mas talvez isso ajude a curar o seu. A esta altura, todos nos contentaríamos com isso.”


Eu não poderia deixar de elogiar o trabalho da editora, que certamente caprichou nesse lançamento. Os parceiros receberam uma caixinha linda com a imagem da capa do livro, contendo o próprio livro (claro) e alguns mimos como imãs com imagens relacionadas e um boton.

Mais do que um drama juvenil, Eu Estive Aqui é um ótimo livro para se questionar o quanto temos, cada um, uma parcela de culpa sobre o que acontece a nosso redor. Nós não fornecemos o veneno, não presenteamos com a arma ou emprestamos a corda, mas podemos estar puxando um gatilho sem que sequer percebamos, e, infelizmente, existem pessoas prontas para apoiar esse tipo de decisão. É real, não é ficção. Livro mais do que recomendado a todos.



Que tal uma musiquinha sobre vaga-lumes...

4 comentários:

  1. Olá!
    Esse é um dos livros que estão na minha lista de futuras leituras.
    Também acho que essa temática tem aparecido mais vezes na literatura atual, e ela me interessa porque acredito que o desenvolvimento dos personagens (algo que adoro nos livros!) seja muito bem trabalhado.
    Beijos,

    Priscilla
    http://infinitasvidas.wordpress.com

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    Respostas
    1. É um tipo de drama que evolui, ne? Também gosto muito, especialmente quando alguém cresce com isso, ainda que exista um pontapé inicial triste

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  2. Ótima resenha, já botei esse livro na minha lista de desejos.
    Adorei o blog, e já estou seguindo
    http://leituranasnuvensb.blogspot.com.br/

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