Resenha: Apenas um dia, de Gayle Forman


A vida de Allyson Healey é exatamente igual a sua mala de viagem: organizada, planejada, sistematizada. Então, no último dia do seu curso de extensão na Europa, depois de três semanas de dedicação integral, ela conhece Willem. De espírito livre, o ator sem destino certo é tudo o que Allyson não é. Willem a convida para adiar seus próximos compromissos e ir com ele para Paris. E Allyson aceita. Essa decisão inesperada a impulsiona para um dia de riscos, de romance, de liberdade, de intimidade: 24 horas que irão transformar a sua vida. Apenas um Dia fala de amor, mágoa, viagem, identidade e sobre os acidentes provocados pelo destino, mostrando que, às vezes, para nos encontrarmos, precisamos nos perder primeiro... Muito do que procuramos está bem mais perto do que pensamos.

Apenas um dia (original: just one day), escrito pela autora de Se Eu Ficar (livro recentemente adaptado para os cinemas – resenha), é um romance muito leve ambientado em uma das viagens dos sonhos da maioria dos jovens: mochilar pela Europa. É uma publicação da Editora Novo Conceito.

Allyson é exatamente a garota certinha e organizada que todos os pais desejam ter. Recém formada no colegial, antes de se preparar para entrar para a faculdade de Medicina, ela decide fazer uma daquelas viagens pela Europa. O roteiro é prefeitamente pré-programado, com direito a guias turísticos e visitas aos grandes monumentos e museus. O problema é que, às vésperas de voltar para a América, ela tem a oportunidade de ser uma nova pessoa, em um novo país, apenas por um dia. É um problema porque, para isso, ela terá que mentir para todos e embarcar para a Cidade Luz correndo um enorme risco de se perder... Willem é o conjunto completo de controvérsias. Ele é o ator desinibido que acredita que a arte deve sair dos papéis e teatros luxuosos diretamente para as ruas, em meio ao povo. Com um sorriso fácil e transparente, o garoto é o perfeito clichê holândes. Entretanto, entre sua filosofia de vida e a atitude ao estilo “Carpe Diem” há um vazio. A velha Allyson sabe que ele não pode ser tudo aquilo que demonstra, mas a nova prefere se arriscar perante tanto mistério. Afinal, é apenas um dia...

“– Sabe o que eu acho?
O quê?
Deveríamos nos perder.
Tenho novidades: estive perdida o dia todo.
Isso é diferente. É se perder de propósito. É algo que eu faço toda vez que chego a uma cidade nova. Entro no metrô ou no trem e escolho aleatoriamente uma parada.”

O tema viagem, road trip, eurotrip, enfim, qualquer coisa do tipo, que nos leve a lugares reais, através de situações fictícias e, claro, um tanto românticas, é sempre bem-vindo. Apenas um dia nos apresenta a um pedacinho da Europa com ela é, mas também a uma Paris toda especial, vista e amada pelo Willem. Entre casas noturnas e passeios de barco com turistas da terceira idade, Allyson descobre uma forma de ser ela mesma sendo alguém completamente diferente. Naturalmente, a história narra uma jornada de autoconhecimento, maturidade e decisão. Nada é óbvio, nada é puramente incrível. Há dor, ilusão e decepção. Os personagens são muito menos que perfeitos e compreensíveis. Desencontros podem não ser obra do acaso e, em vários momentos, os personagens passam por situações típicas da vulnerabilidade humana.

“– E os meus pais?
O que é que tem os seus pais?
Não posso decepcioná-los.
Mesmo que isso signifique decepcionar a si mesma? Duvido que eles fossem querer isso para você.”

A narrativa se constrói em primeira pessoa, sob o ponto de vista de Allyson. O ritmo é lento, na maioria das páginas, mas não chato. Tudo o que é descrito possui um propósito. A Allyson de antes e a Allyson de depois são praticamente a mesma pessoas, mas nós sabemos que algo mudou, mesmo que ninguém perceba, inclusive ela. Os fãs de Shakespeare, como eu, vão gostar dos pequenos debates a respeito de suas obras. Já aqueles que esperam por um romance óbvio, sinto lhes dizer que não há. Tudo neste livro possui um clamor por reflexão e autoconhecimento, por isso até mesmo o romance pode não ser o que se espera de um livro. Na verdade, é algo bem realista, e até surpreendente. Gostei muito dessa abordagem fugindo do convencional. Inevitavelmente, preciso comparar este livro com o romance Se Eu Ficar, da mesma autora. Enquanto um, com toda a simplicidade, aborda uma jornada aparentemente pequena, mas com uma finalidade absurdamente verdadeira, o outro, infelizmente, se perde na dor física e poética ao ilustrar um romance que não me convenceu.

A editora está lançando, ainda este mês, Apenas um ano, que apresenta a versão de outro personagem e, com certeza, complementa a história exatamente com o que faltou em Apenas um dia: o ponto de vista de Willem.
Leitura mais do que recomendada a todos que curtem romances nada óbvios e descobertas interiores. O que é apenas um dia em uma vida inteira?

Algo muda no rosto dele, durante um brevíssimo momento, a queda da máscara de alegria, que eu não percebi ser uma máscara até ver o quanto ele estava cansado, inseguro, o quanto se parecia comigo embaixo dela.”

10 comentários:

  1. Esse livro e lindo. To louca pra ler a versao do wilem pra tirar aquele peso que esse livro deixou. Espero que tenha um final feliz.

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  2. História muito linda de romance! Vai pra minha listinha, hehe! Ótima resenha, me fez gostar de um livro totalmente desconhecido pra mim. Bjs

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  3. Oláa Camilla. Já estou com "Apenas Um Ano" para ler, isso que nem li "Apenas Um Dia", mas espero que não atrapalhe minha leitura. Como dizem ser a mesma história, mas do ponto de vista do protagonista masculino, acho que não vou ficar perdida. Enfim, de certo modo sua resenha me deu uma noção do que esperar e eu realmente desejo que venha uma boa história por ai. Li "Se Eu Ficar" e fiquei encantada, mas devastada. Pelo menos com essa história espero um final feliz.

    Blog | Paixonites Literárias Xx

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    1. Acho que dá sim pra ler apenas um ano, mas eu aconselharia ler o primeiro antes. Faria mais sentido, embora não atrapalhe :)

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  4. os livros da autora são ótimos, não tive a chance de ler todos, mas em breve vou ler... todos eles estão embalados no meu armário hahah #penadeabrir

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  5. Sinceramente? Tenho a impressão de que este livro é uma pura mistura de chatice, sério. E não me pergunte porque, já que nem eu mesma sei. Só não consigo ficar curiosa pela história. E depois de saber que o ritmo da história seja lento, embora você tenha dito maravilhas do Willem, o que me faz crer que ele te conquistou, eu ainda assim não consigo querer ler este livro.

    Inquietudes Secretas

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  6. Tinha minhas dúvidas se leria o livro, achei pela sinopse q ia cair em mais estória óbvia demais...mas realmente a sua resenha me fez mudr de opinião.
    Apesar de ter uma enrolação no livro, acho q vou ler pra tirar as minhas conclusões né?
    Apenas um dia e apenas um ano vou ler!

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