Resenha: Por Lugares Incríveis – Jennifer Niven


Dois jovens prestes a escolher a morte despertam um no outro a vontade de viver.
Quando Theodore Finch conhece Violet Markey em circunstâncias nada usuais, surge uma amizade única entre os dois. Cada um com seus próprios traumas e sofrimentos, eles se juntam para fazer um trabalho de geografia e acabam descobrindo mais do que os lugares incríveis no estado onde moram: a vontade de salvar um ao outro e continuar vivendo.

Por Lugares Incríveis (título original: All The Bright Places) é um romance escrito por Jennifer Niven e publicado no Brasil pela Editora Seguinte/Cia das Letras. Trata-se de uma história poderosa sobre perda, luto e superação de si mesmo, mas acima de tudo, sobre a vida.

A história de Por Lugares Incríveis é narrada em primeira pessoa, intercalando capítulos sobre o ponto de vista dos dois personagens principais. Quem poderia supor que, no Estado de Indiana poderiam existir lugares incríveis? Na pequena cidade de Bartlett nunca houve nada de extraordinário, exceto, talvez, um improvável encontro na torre do sino da escola, responsável por pequenas-grandes reviravoltas na vida de outros. 
 
Theodore Finch, carinhosamente chamado de Aberração pelos insuportáveis colegas, não costuma se importar com a opinião alheia. Seu lema é ser um novo personagem a cada semana, sempre em desacordo com as convenções, provocando a todos com sua presença de espírito peculiar e desencanada. Violet, por outro lado, é a típica garota popular e certinha: boa aluna, boa filha, namorada do mais desejado da escola, isto é, livre de qualquer suspeita de infelicidade. O caminho dos dois se cruza na torre do sino do colégio, de onde ambos estão dispostos a pular e deixar para trás familiares, amigos, etc. Só que esse encontro não estava nos planos de nenhum dos dois, que terminam o fatídico momento auxiliando um ao outro, até voltarem à segurança das paredes do prédio. De qualquer forma, subir aquela torre, na verdade, é apenas o início de uma série de encontros, nos lugares mais incríveis possíveis (armários estrelados, banco traseiro de vans, pico mais alto do estado, buracos de minhoca azuis...).

Ainda estou aqui, e sou grato por isso, porque senão perderia este momento. Às vezes é bom estar desperto.
- Então não foi hoje – canto –, porque ela sorriu pra mim.”


Gosto de escrever. Gosto de um monte de coisas. Talvez, de todas elas, eu seja melhor na escrita (…) talvez a parte de mim que escreve tenha chegado ao fim.”

Finch é estranhamente encantador. Além de permitir que os outros vejam apenas o que ele deseja mostrar, sua personalidade, atitudes e reflexões são tão doces, que é difícil imaginar a razão de seu sofrimento, afinal, ele não esteve naquela torre por estar satisfeito com a vida, certo? Ele está enfrentando um problema desconhecido de todos à sua volta (embora, nem tanto para o leitor mais atento). Violet é mais óbvia, ainda que muito introspectiva. Há quase dois anos ela é a sobrevivente de um trágico acidente que tirou a vida de sua irmã, Eleanor. Sendo a filha que restou, enfrentando os dilemas do iminente início da vida adulta e mais solitária do que nunca, é quase natural compreender o que a garota fazia naquela torre. 
 
De repente, os dois não estão apenas se esbarrando no lugar que escolheram para deixar a vida e, sim, começando um trabalho de suas vidas geografia, idealizado por um professor que só quer algumas pontuações a respeito do Estado de Indiana. Finch fica eufórico e ávido a conhecer os tais lugares incríveis de Indiana, alguns famosos, outros chatíssimos, mas todos dispostos a receber um pedaço de quem por ali passar. E, assim, começam suas andanças. Em alguns momentos, tudo não passa de uma obrigação curricular para Violet, mas aos poucos, ela começa a enxergar algo a mais, não nos lugares, mas em Finch. Ele, por sua vez, passa a mostrar um pouco mais de sua verdadeira versão, imcompleta, mas cheia de reflexos. Juntos, ainda que despedaçados, suas chances de superação e futuro são bem maiores, algo que precisam perceber sozinhos.

(...) é assim que me sinto agora. Como se Plutão e Júpiter estivessem alinhados com a Terra e eu estivesse flutuando.
(…) Você é tão estranho, Finch. Mas essa foi a coisa mais bonita que alguém já me disse.”

Mais uma vez, só tenho elogios à Editora Seguinte. Capa, diagramação e revisão estão perfeitas. As singelas figuras/silhuetas encontradas na capa e ao longo das páginas não poderiam demonstrar mais doçura, beleza e, me arrisco a dizer, baixa gravidade. 
 
Particularmente, não fiquei surpresa com o desenrolar da trama. A natureza humana é cheia de imcompreensões, desilusões e anseios, e, por vezes, somos surpreendidos por perdas ou, simplesmente, falta de expectativas, mas tudo isto tem solução, é claro. Como dizem por aí, “tem jeito pra tudo, menos pra morte”. O problema é que cada um sabe bem a dor que sente, então julgamentos não ajudam; não trazem nada, e nem ninguém, de volta. Penso que a história de Finch e Violet seja uma forma, utilizada pela autora, de nos fazer compadecer, de mostrar-nos um lado inteiramente novo do sofrimento, bem como as diversas formas que os indivíduos são capazes de encontrar para sobreviver.
 
Por Lugares Incríveis não traz lições de moral, insinuações vazias de como se viver a vida, e, muito menos, milagres. O que temos aqui, na verdade, é um retrato da realidade das muitas faces da dor, que dispensam interrogações, veredictos e solidariedade. Compreendi que: não existe vida perfeita; nenhuma infelicidade é forjada; nem tudo se trata de escolhas; não é uma questão de egoísmo; nenhuma perda tem conserto e, toda dor, um dia, encontra seu fim”.

- (...) A sensação é de que a gente não tem escolha. De que é a coisa mais lógica a fazer, porque o que existe além disso? Você pensa: 'Ninguém vai sentir a minha falta. (…)'
- Mas você não é assim o tempo todo (…) Você é popular. Seus pais são legais. Seus irmãos são legais. (…)
- Nesses momentos nada disto importa. É como se fossemos outra pessoa, porque tudo o que a gente sente é uma escuridão por dentro, e essa escuridão meio que toma conta. Na verdade, nem pensamos no que pode acontecer com quem deixamos para trás, porque só conseguimos pensar em nós mesmos. (...)”


4 comentários:

  1. Oi Camilla!
    Eu adorei esse livro justamente pelo que você destacou: ele não tenta trazer lições de moral, nem foi escrito para forçar o leitor a se emocionar. Isso acaba acontecendo porque a história soa verdadeira e os personagens são cativantes. A autora quer sim nos mostrar uma situação difícil, mas deixa os personagens viverem ela. Gostei muito.
    Beijos,
    alemdacontracapa.blogspot.com

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  2. Poxa adorei o livro e também a resenha, já está na minha lista de desejos. Parabéns! Beijãão

    www.tendadoslivros.com.br

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