Resenha: Proibido, de Tabitha Suzuma


Ela é doce, sensível e extremamente sofrida: tem dezesseis anos, mas a maturidade de uma mulher marcada pelas provações e privações da pobreza, o pulso forte e a têmpera de quem cria os irmãos menores como filhos há anos, e só uma pessoa conhece a mágoa e a abnegação que se escondem por trás de seus tristes olhos azuis. Ele é brilhante, generoso e altamente responsável: tem dezessete anos, mas a fibra e o senso de dever de um pai de família, lutando contra tudo e contra todos para mantê-la unida, e só uma pessoa conhece a grandeza e a força de caráter que se escondem por trás daqueles intensos olhos verdes. Eles são irmão e irmã. Mas será que o mundo receberá de braços abertos aqueles que ousaram violar um de seus mais arraigados tabus? E você, receberia?

Proibido é o romance devastador escrito pela britânica Tabitha Suzuma e publicado no Brasil pela Editora Valentina. O enredo aborda, de forma doce e marcante, uma situação considerada tabu e, até mesmo crime. Antes de qualquer coisa, você precisa saber que Proibido não é um romance lindo e cheio de expectativas. Ao contrário, é um romance que desperta as mais antagônicas emoções, nos remete aos confins da consciência humana e, estraçalha qualquer princípio que um dia juramos possuir. Não se trata de uma história bonitinha, que prega a superação de obstáculos ou cai na pieguice. Proibido aborda, da forma mais simples e dolorosa possível, os conflitos de uma relação verdadeiramente proibida e suas consequências. É dever do leitor sentir o que bem entender, mas a história não deixa sequer margem para julgamentos. A resenha ficou enorme, mas acredite, não dava para falar menos.

O livro é apresentado sob os pontos de vista de dois personagens: Lochan e Maya Whitely. Os dois são irmãos mais velhos de Kit, Tiffin e Willa. Após a separação dos pais, e consequentemente, a ausência contínua do pai e o afastamento descabido da mãe, são eles os responsáveis práticos pela casa e irmãos menores. Lochan está prestes a se formar e já é considerado brilhante o bastante para ir para qualquer lugar, embora seja de sua escolha continuar em Londres, ao lado dos irmãos. A verdade é que ele e Maya não são apenas obrigados a olhar pelos irmãos, pois realmente agem com um paternalismo extremo. Até aí, tudo bem, não é nada difícil imaginar uma família como a deles, cujas vidas seguem à margem da sociedade, à base de muitos sacrifícios. Afinal, como levar a conhecimento público o fato de que sua mãe só passa em casa para deixar pequenas quantias, apenas para parte das despesas? O que aconteceria com eles se sua situação chegasse aos assistentes sociais? Este é o primeiro dilema vivido pelos Whitely.

Ao mesmo tempo que toma as rédeas da casa, Lochan é o garoto extremamente tímido na escola, que não consegue sequer cumprimentar um colega, quanto mais apresentar um trabalho. Seu comportamento provoca opiniões diversas e, ao invés de se camuflar, ele acaba se destacando. Definitivamente, por diversos fatores, esse é o personagem mais importante da história, aquele que demonstra em toda e, qualquer pequena atitude, sua devoção pela família. E é, justamente isso que o torna tão incrível quando envolto na situação que é o foco da história. Sob os olhos de Lochan, tudo é voltado para sua casa. Sob os olhos de Maya, embora ela tenha um grande senso de responsabilidade pela família, a vida ainda pode existir fora de casa, ou seja, amigos e namorados são uma boa ideia, isto é, até ela descobrir algo lindo e assustador, que sempre esteve ao seu lado. E é aqui que a nossa história se complica. Ainda quer saber o porquê?

A escola fez com que ele visse uma terapeuta no ano passado, mas foi perda de tempo. Em casa, ele fala. É só com as pessoas que ele não conhece, com pessoas fora da família.”

Após a primeira metade do livro você vai desejar que tudo não passe de uma peça pregada pelo passado e pelos pais; vai decidir advogar em favor deles em uma causa contra o mundo; vai olhar para a palavra amor com outros olhos, livre das amarras. Um velho jargão diz que tudo o que é proibido é mais gostoso, mas você acha mesmo que uma pessoa é capaz de arriscar tudo o que já amou só para viver algo perigoso e, legalmente, impossível?
 
Bom, o tema principal de Proibido é o incesto. Como todos sabem, relações entre parentes consaguíneos costumam ser tratadas como tabu, em boa parte dos lugares. Na Inglaterra, lugar onde o livro é ambientado, o incesto é mais do que uma situação desajustada e doentia; é um crime punível com cerca de 14 anos de prisão. Naturalmente, quando se tem a perder muito mais do que a liberdade, há que se pensar nas consequências de tal ato e, esta é a grande tacada da autora em Proibido. Mais do que tabus e preconceitos, ela traz à tona o que pode acontecer quando tudo foge do controle e, um sentimento até então natural se torna cruel e irônico, em todas as suas formas. E mais, ela não nos traz justificativas ou abertura para julgamentos, apenas nos conta uma história onde um amor verdadeiramente proibido nasce, ou melhor, sobrevive.

Mas as coisas vão dar certo. Aliás, já deram; olha só para nós (…)
Você tem que acreditar, Lochie – sussurra. - Nós dois temos que acreditar com todas as nossas forças, se quisermos que aconteça.”

Quando comecei a ler, eu tinha uma ideia completamente diferente do que seria a história. O início e o desenvolvimento não ocorreram como eu esperava, mas o desfecho foi exatamente o que eu previa. A história tenta fugir dos clichês, ao trazer uma abordagem dura e racional de um tema tão proibido, mas termina extamente como um, pelo menos sob o meu ponto de vista. Não me desagrada, especialmente ao deixar claro que não se trata de apologia a algo pecaminoso, por assim dizer, mas uma abordagem prática de que as coisas são como são e não existe a forma correta de amar. Por outro lado, um dos personagens não me conveceu, parecendo agir mais por impulso do que pela emoção, ao contrário do que sua maturidade forçada poderia sugerir. Achei que o desenvolvimento do romance poderia ser mais claro e menos forçado, pois acredito na existência de algo assim, por mais absurdo que possa parecer. Ainda não consigo imaginar como uma situação como esta poderia ser real, mas obviamente, pode ser e nós nem vamos saber, pois o mundo fora do livro não é diferente deste e, ainda que nem sempre existam prisões a grades de ferro enferrujado, uma pessoa pode estar presa por uma única palavra, aquela que delimita o certo e o errado nas ideias da sociedade. E pode não haver motivo algum, sequer um gatilho. Será que uma família complicada pode originar algo mais profundo? Acho que está longe de ser uma regra.

O que eu aprendi com o livro? Respondedo ao questionamento feito na própria sinopse, devo dizer que sim, eu os receberia de braços abertos. Como cristã e alguém que já se impressionou o bastante com o Antigo Testamento da Bíblia e aprendeu o suficiente com o Novo, não vejo razão para repudiar os sentimentos dos outros, ainda que jamais consiga me colocar em seus lugares. É amor? Está a favor da vida? Então merece respeito.

Como o nosso amor pode ser considerado horrível, quando não estamos fazendo mal a ninguém?”

Como uma coisa tão errada pode parecer tão certa?”

5 comentários:

  1. Falar desse livro é difícil. Li em inglês e tá aqui na estante pra ler a versão em português. Meus sentimentos foram muito contraditórios a respeito dele, mas ainda assim é um dos meus favoritos da vida <3

    Não achei o final tão clichê, sabe? Dramático em excesso, mas acho que necessário. Acho que é característica da autora, to lendo outro livro dela e também aborda um assunto "sério" (apesar de eu ainda não ter descoberto o que é, haha)

    Enfim, muito boa sua resenha! Discordo em partes mas ficou muito bem escrita. Beijos!

    http://www.devaneiosdepapel.com.br/

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  2. Gostei do tema, forte e polêmico. Ja ta na lista de 2015 com certeza! Deve dividir mesmo opiniões. abç

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  3. Oi :}

    Sabe, quando iniciei a leitura eu já sabia do que se tratava, mas nunca imaginei que a autora conseguisse me tocar tanto assim. Ao contrário de você eu não vi nada de clichê na história, talvez por não ter lido nada do tipo, mas foi emocionante. Meu coração saiu despedaçado com esse final, e olha desde o começo da história eu torcia pra ter algo que permitisse que os dois ficassem juntos !! Eu adorei a história, mas não gostaria de ler de novo algo parecido porque realmente me senti triste.
    Bj

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