Garota
Exemplar (título original: Gone Girl), dirigido por David Fincher, é
a adaptação cinematográfica do livro homônimo escrito por Gillian
Flynn. O enredo é uma espécie de suspense,
metodicamente elaborado, complementado por personagens realistas e
capaz de surpreender a cada
cena, assim como as páginas do livro o fazem.
Uma das mais aclamadas escritoras de suspense da atualidade, Gillian Flynn apresenta um relato perturbador sobre um casamento em crise. Com 4 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo o maior sucesso editorial do ano, atrás apenas da Trilogia Cinquenta tons de cinza, "Garota Exemplar" alia humor perspicaz a uma narrativa eletrizante. O resultado é uma atmosfera de dúvidas que faz o leitor mudar de opinião a cada capítulo. Na manhã de seu quinto aniversário de casamento, Amy, a linda e inteligente esposa de Nick Dunne, desaparece de sua casa às margens do Rio Mississippi. Aparentemente trata-se de um crime violento, e passagens do diário de Amy revelam uma garota perfeccionista que seria capaz de levar qualquer um ao limite. Pressionado pela polícia e pela opinião pública e também pelos ferozmente amorosos pais de Amy, Nick desfia uma série interminável de mentiras, meias verdades e comportamentos inapropriados. Sim, ele parece estranhamente evasivo, e sem dúvida amargo, mas seria um assassino? Com sua irmã gêmea Margo a seu lado, Nick afirma inocência. O problema é: se não foi Nick, onde está Amy? E por que todas as pistas apontam para ele?
Há
uma semana, fui ao cinema preparada e, com a certeza de que veria uma
adaptação “daquelas”. Só não sabia que seria tão fiel ao
respectivo livro. Sou uma fã incondicional do Ben Affleck desde que
tinha uns 12 anos e confesso que corri para ler o livro no mês
passado só para ver o filme como manda o figurino. Apesar de minha
mente ter sido “corrompida” pela imagem de Ben como o personagem
Nick Dunne, acho que não poderiam ter escalado um ator mais
adequado. Sim, enquanto lia, eu conseguia imaginar o sorriso bobo
dele e suas atitudes de pateta, que cabiam perfeitamente no
personagem. Bom, com o filme, não me decepcionei, e logo, a resenha
vale pelos dois (livro e filme).
Na
manhã em que a esposa de Nick Dunne, Amy, desaparece, ele não tem o
álibe perfeito. O casamento, que naquela data, completaria seus 5
anos, deixa junto às pistas de um possível crime grandes indícios
de sua imperfeição. Nick é o dono de um bar, ao lado de sua irmã
gêmea, Go, ao mesmo tempo que dá aulas em uma faculdade na cidade.
Em meio a idas e vindas na sequência cronológica, o
leitor/telespectador tem acesso a pedaços do passado do casal,
inclusive do momento “mágico” em que se conheceram. Todos esses
pedaços soltos no tempo servem para o questionamento do quão
perfeita era a vida dos dois, tudo possibilitado por um mero
instrumento: o diário de Amy.
Amy
era, por assim dizer, uma figura pública, graças ao famoso trabalho
literário de seus pais. Amy era simplesmente Amy Exemplar, a
garotinha perspicaz dos livros infantis, inspirada na filha perfeita
de um casal novaiorquino. Inteligente, rica, linda e, aparentemente,
perfeita, Amy Elliot estava fadada ao casamento dos sonhos. O
problema é que os assuntos financeiros passaram a ser uma constante
em cada conversa do casal, especialmente com a emergente falta de
dinheiro e o desemprego que assombrou os dois. Por razões
altruístas, o casal precisou sair de New York para ajudar a mãe de
Nick em sua cidade natal, que estava perdendo uma luta para o câncer.
Logo, Nick e Amy se viram presos àquela vidinha suburbana e sem
brilho, tendo de lidar com a ausência de tudo o que mais atraia um
ao outro.
O fato é que Nick parece não fazer ideia do que pode ter acontecido com a esposa, que deixou na sala de estar o cenário de uma luta e nenhum vestígio do destino. Interpretando o papel do típico marido preocupado, colaborando com a polícia e recebendo todo tipo de condolências, Nick deveria ser tudo, menos suspeito, não é? Bom, as imagens não mentem e o assédio da mídia não demora a cobrar seu preço. Logo, o comportamento tranquilo, os sorrisos em momentos inoportunos e a aparente falta de interesse na vida social da esposa, levam Nick a ter o precoce veredicto fornecido pela mídia: culpado. Afinal, o marido é sempre o principal suspeito pelo desaparecimento/morte da esposa, certo? E é desta premissa que a trama tem seu incrível desenrolar. Para o leitor/telespectador existe um antes e um depois, muito nítido a partir de dado momento e que funciona com um brilhantismo sem tamanho.
O
papel da mídia nas investigações de um possível crime é
perfeitamente demonstrado, seja perante as grandes emissoras, ou
através de pequenos atos cotidianos, como as famosas selfies,
que não escondem nada e, ao mesmo tempo, não dizem tudo, gerando as
mais diversas e absurdas interpretações para um fato inocente. No
fim das contas, existem ao menos duas personalidades para cada
pessoa, dependendo do que se quer mostrar. Resta aos personagens
saber utilizá-las. Observar o quanto as pessoas comuns, e até mesmo
as autoridades, se deixam levar pelo sensacionalismo a ponto de
condenar alguém a uma pena de morte não é nada distante do que
vivemos.
Outro
ponto a destacar é a sociopatia, proposta no enredo exatamente como
se espera na realidade. Não há um aprofundamento desta condição
humana, embora seja apresentada, claramente, como algo
inacreditavelmente óbvio, uma vez que se pare para pensar. Tal
condição é muito bem explorada, ainda que a essência da trama não
se apegue a um único fator polêmico.
O
brilhantismo da autora se traduz no leve suspense (uma vez que este
não dura muito), mas também em cada movimento efetuado pelos
personagens, substituindo a famosa enrolação pela sequência
impactante de uma nova pista. As pessoas têm dificuldade em encarar
o óbvio e, quando o fazem, normalmente não são levadas a sério.
Garota Exemplar é um misto da loucura que atravessa nossos caminhos
todos os dias, desde os movimentos banais aos grandes atos de
violência, notados apenas quando as lentes se voltam para o alvo até
então ignorado. Há sempre uma peça faltando no quebra-cabeças e
nunca se tem certeza do quanto se conhece uma pessoa.
Gostei
muito da atuação do casal principal. Como já disse, Ben Affleck
convence no papel de Nick, de uma forma tão perfeita que chega a ser
cômico. Rosamund Pike dá vida à Amy Elliot evidenciando todos os
pontos fortes da personagem. Não acho que existam atores melhores
para tais papéis, pois os dois foram maravilhosos. Não gostei muito
de um detalhe na produção: em certo momento, Rosamund usa
enchimentos mal arrumados e muito visíveis, deixando uma aparência
bizarra ao invés de mais cheinha.
Não
espere um final épico, minha única ressalva na história. O fim dos
personagens me desagradou bastante, embora faça parte da nossa
tangível realidade. Espere uma narrativa e cenas surpreendentes, um
desenrolar angustiante e um final básico, até mesmo irônico. As
pessoas são imprevisíveis até certo ponto, daí em diante é muito
fácil manipulá-las: esta é a lição que eu tiro da história.
Garota
Exemplar (Gone Girl) - 2014
Elenco
principal:
Ben
Affleck
Rosamund
Pike
Neil
Patrick Harris
Carrie
Coon
Patrick
Fugit
Kim
Dickens
Missi
Pyle
Oi Camila!
ResponderExcluirEu amei o livro e amei o filme. Acredito que posso dizer com toda a certeza, que essa foi melhor adaptação que eu já vi. Ponto pra autora que também fez as vezes de roteirista. Os produtores de cinema deviam consideram mais essa possibilidade.
Toda a complexidade e o suspense do livro, foram brilhantemente transportados para o cinema. E ressaltando, a escolha dos atores não poderia ser melhor. Ouvi dizer que a Reese Witherspoon, a princípio seria a Amy, ainda bem que muidaram de ideia, porque Rosamund Pike deu um show em cena. Perfeita. Como todo o filme.
Sua resenha ficou ótima!
Bjos
entrereaiseutopias.blogspot.com.br
Sim, um arraso!
ExcluirOi Camilla! Eu não tinha interesse de ler esse livro nem de ver o filme. Mas estão falando também bem dos dois que cada vez mais fico curioso para conhecer. E essa tua resenha então, avaliando cada ponto, contribuiu para atiçar minha curiosidade.
ResponderExcluirAutor de Mestre de Marionetes
www.laplacecavalcanti.com
Sim, recomendo os 2 :)
ExcluirOi Camilla! :) Adorei o texto. Quando vi o filme tive uma surpresa boa. Achei ele bem fiel ao livro e adorei a atuação de todos. Como você colocou no texto, o papel da mídia acaba sendo discutido no filme, o que foi bastante interessante, já que nos deparamos com esse tema atualmente. A fotografia e a direção do filme, me encantaram também. Gostei do final, achei que combinou com a personalidade dos dois, além do que, foge um pouco do clichê que estava esperando quando li o livro. Há tempos, não ficava tão empolgada em um filme, como fiquei em "Garota Exemplar" :)
ResponderExcluirAham! Não deixou a desejar, ne? :)
ExcluirNem li esse livro porque achei que seria meio chato. Gosto mais de romance bobinho mesmo. So que quando vi o filme, fiquei de boca aberta. Como e bom! Acho que o Nick mereceu tudo o que aconteceu, mas a Amy tambem podia ter outro final. O bom e que foi tudo uma surpresa, ninguem esperava o final.
ResponderExcluirSim, imprevisível, de fato :)
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