Nunca pensei que fosse
terminar um livro, cuja leitura seguia tão descompromissada, com a
estranha sensação de que as coisas não acabariam bem. Antes que eu
pareça idiota, preciso deixar bem claro que nunca assisti ao filme
e, portanto, não poderia ter ideia do que se tratava ao certo.
Comprei a versão com a capa do filme há alguns meses e só agora
terminei de ler.
A princípio, me senti
estranha lendo as cartas de Charlie, pois sua linguagem e atitudes
descritas são muito imaturas e repetitivas. Claro que isso é tudo
proposital. O livro é narrado na pessoa de Charlie, um garoto
prestes a completar dezesseis anos que vive uma vida comum. Na
verdade, o livro nada mais é do que suas cartas, escritas para um
destinatário oculto, nas quais ele conta tudo o que tem vivido de
forma simples e tocante. A impressão que eu tive desde o começo é
a de que Charlie tinha algum problema, mas aos poucos a leitura
conduz a algo muito mais complexo e, ao mesmo tempo, tão normal.
Basicamente, Charlie é
um garoto doce e solitário que pertence a uma boa e simples família.
Após um incidente desagradável com um amigo, ele se vê só, mas
não por muito tempo. Logo, ele conhece Sam e Patrick, dois colegas
de escola mais velhos que o acolhem de uma forma muito carinhosa. Daí
em diante, Charlie tem tanta coisa para contar, que nada melhor do
que escrever, não é mesmo?
“(...) Sam e Patrick
me levaram de carro à festa naquela noite, e eu me sentei no meio na
picape de Sam (…) A sensação me aconteceu quando Sam disse a
Patrick para encontrar alguma coisa no rádio. E ele só encontrava
comerciais (…) E por fim ele encontrou esta canção realmente
maravilhosa sobre um cara, e nós ouvimos em silêncio.
Sam batucava com as
mãos no volante. Patrick colocou o braço para fora do carro e fazia
ondas no ar. E eu fiquei sentado entre os dois. Depois que a música
terminou, eu disse uma coisa:
Eu me sinto infinito.”
As
experiências de Charlie com seus novos amigos são normais, mas
também audaciosas. Das diversas coisas que Charlie faz ou assiste,
algumas acontecem em meio às drogas e o álcool, o que na minha
opinião só serve para deixar o Charlie ainda mais “doidão”,
como diria seu irmão. Ele está sempre fazendo perguntas a todos,
algumas bem inconvenientes e dignas de uma criança de cinco anos.
Porém, ao contrário do que possa parecer, tais experiências não o
influenciam tanto e a abordagem é feita da forma mais natural
possível.
Na
maior parte do tempo, Charlie só observa as pessoas a sua volta. Ele
parece ter o dom de estar no lugar errado e na hora errada, o que o
faz presenciar certos acontecimentos que não deveria ver.
Especialmente quando se trata de pessoas próximas e por quem ele
deveria fazer algo. Confesso que não imaginava que o livro fosse
abordar tantos temas polêmicos de uma forma tão natural. Não sei o
que eu esperava, mas certamente não era nada do que li. Não
esperava que segredos realmente complicados seriam desvendados, mas
em determinado ponto tive muito medo do que o futuro poderia ter
reservado para Charlie, sua família ou seus amigos. Trata-se de um
drama travestido de um simples relato, mas que no final, te choca e
faz tudo ter sentido. Cada palavra repetida, cada lágrima e cada
lembrança nebulosa de Charlie são pequenos pedaços de um
quebra-cabeças, um pouco triste, mas também feliz, chamado vida.
E se
tem uma coisa que aprendi/compreendi foi que:
“(...) a gente
aceita o amor que acha que merece.”
Muito boa sua resenha.. só assisti o filme e queria muito ler!!
ResponderExcluirAmo o Charlie, demais..