Resenha de Legend, de Marie Lu

De vez em quando, termino uma leitura com um sentimento tão bom, como quando você assiste a um filme maravilhoso e marcante a ponto de pensar na história por dias a fio. Legend deixou este efeito em mim. Eu sabia que seria bom, pois já havia ouvido a respeito antes. Só não esperava o quanto. Claro, não é perfeito. Como toda boa distopia, há muita perda, sofrimento e revolta, o que não é novidade no gênero. Trata-se de uma trilogia escrita por Marie Lu, publicada no Brasil (por enquanto apenas o primeiro volume, Legend) pela editora Prumo.

Ambientado na cidade de Los Angeles em 2130 D.C., na atual República da América, conta a história de um rapaz – o criminoso mais procurado do país – e de uma jovem – a pupila mais promissora da República –, cujos caminhos se cruzam quando o irmão desta é assassinado e a ela cabe a tarefa de capturar o responsável pelo crime. No entanto, a verdade que os dois desvendarão se tornará uma lenda. O que outrora foi o oeste dos Estados Unidos é agora o lar da República, uma nação eternamente em guerra com seus vizinhos. Nascida em uma família de elite em um dos mais ricos setores da República, June é uma garota prodígio de 15 anos que está sendo preparada para o sucesso nos mais altos círculos militares da República. Nascido nas favelas, Day, de 15 anos, é o criminoso mais procurado do país; porém, suas motivações parecem não ser tão mal-intencionadas assim. De mundos diferentes, June e Day não têm motivos para se cruzarem – até o dia em que o irmão de June, Metias, é assassinado e Day se torna o principal suspeito. Preso num grande jogo de gato e rato, Day luta pela sobrevivência da sua família, enquanto June procura vingar a morte de Metias. Mas, em uma chocante reviravolta, os dois descobrem a verdade sobre o que realmente os uniu e sobre até onde seu país irá para manter seus segredos.

O que encontrei foi uma narrativa simples e forte a respeito de um tema constantemente em pauta, hoje em dia. Os personagens e a forma como lidam com seus problemas em um mundo complicado me conquistaram logo no início. Day é um garoto tão simpático, que te faz, realmente, acreditar no seu bom caráter, ainda que as circunstâncias indiquem que as coisas podem não ser tão exatas. A instigação da imaginação da aparência do garoto também ajuda, mas ele é realmente carismático. Já a june quase me fez acreditar, a princípio, que seria a típica protagonista chatinha e cega para a realidade. Mas não, ela se mostrou forte e atenta às possibilidades, sendo a garota soldado superinteligente e eficiente, sem esconder a garota solitária e em luto que realmente era. Muito interessante foi o encontro destes dois personagens, vindos de mundo tão diferentes, mas com tanto em comum. 

O ambiente não surpreende muito, já que estamos num malsucedido futuro no qual uma elite poderosa domina uma maioria cercada de miséria e revolta. O cenário é óbvio e dispensa grandes descrições, marcado apenas pelo que ocorre à sua volta e não por suas características nada peculiares.

Tive raiva do sistema, das mortes de determinados personagens e até da objetividade na explicação dos fatos. Legend não baseia sua trama na enrolação e suspense quanto às informações. A sequência dos fatos flui muito bem e não regride, mostrando as coisas como elas são sem inibir a curiosidade do leitor. Eu quis que o livro fosse maior, que a história se desenvolvesse a partir de maiores detalhes, pois tinha certeza de que odiaria o fim (o fato de o livro acabar, não o seu final em si).

O segundo volume é Prodigy, mas não encontrei a data de lançamento no Brasil, o que espero não demorar muito. Espero muito desta sequência, especialmente porque o título é bem sugestivo. Também espero mais romance, embora tenha achado que a dose do mesmo em Legend foi bem adequada, já que o excesso colocaria tudo a perder no andamento da trilogia. O terceiro e último volume, Champion, será lançado ainda este ano nos EUA, encerrando uma das melhores distopias que conheço.