Resenha de Extraordinário, de R.J. Palacio



Um livro, ou seu autor, que seja, é brilhante quando consegue tocar o leitor de forma certeira. Se o objetivo é provocar risos, o leitor precisa morrer de rir. Se objetivo é arrancar lágrimas, o leitor precisa chorar. Se a intenção do autor é levar à reflexão, então sinto muito, mas o leitor pode reagir da forma que lhe convém, seja chorando, rindo ou, simplesmente, refletindo. Extraordinário pode ser qualquer coisa, de cômico a trágico. O que o leitor não pode ser, de jeito algum, é indiferente ao que o livro enreda. Tire qualquer conclusão a respeito da vida e tudo mais, só não reaja como se não fosse nada, pois Palacio foi brilhante. Esta autora, em seu primeiro livro, nos presenteia com uma verdadeira obra-prima ao tratar de um assunto tão delicado de uma forma tão simples e, ao mesmo tempo, tão especial. Publicado pela editora Intrínseca com uma capa simples, que não poderia ser mais perfeita para o enredo, Extraordinário mexe com nosso melhor lado, tornando difícil ignorar o pior, expondo-nos a nosso próprio preconceito e hipocrisia.

 
A história, contada através do ponto de vista de vários personagens, cada um à sua maneira, narra a vida de August, um garotinho de dez anos que sofre de uma rara anomalia genética que faz com que sua aparência, seu rosto, seja completamente fora dos padrões, mas não os de beleza, e sim, os humanos. Auggie, como é carinhosamente chamado pela família, leva uma vida quase normal agora, apesar do rosto “desfigurado”, mas quando nasceu, as expectativas de sobrevivência eram mínimas, tornando sua vida um milagre para aqueles que o amam. O primeiro quote importante que quero destacar é também o que melhor resume o foco da história.
...Não vou descrever minha aparência. Não importa o que você esteja pensando, porque provavelmente é pior.”
Até agora, devido às inúmeras cirurgias a que Auggie fora submetido, não havia a menor chance de matriculá-lo na escola, portanto sua mãe, Isabel, lhe ensinou tudo o que pode em casa. O problema, ou solução, é que o garoto já não passa por tantos procedimentos cirúrgicos, o que a faz pensar que talvez seja a hora de ir à escola. Ele odeia a ideia, claro. Ainda assim, acaba concordando em tentar e logo se surpreende com o tanto de coisas que pode aprender lá.
Logo, um preceito lindo lhe é apresentado como lição na aula de inglês e, acredite, vejo os alunos como uma metáfora para o que somos.
Quando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil.”
Apesar do novo desafio a que é submetido, Auggie lida bem com as crianças a seu redor, mesmo que nem sempre elas estejam sendo legais. Ele costuma justificar a si mesmo o por quê de uma criança agir de determinada forma maldosa. Ao invés de, simplesmente, sentir pena de si mesmo, o garoto, que é humano e, obviamente, tem sentimentos equivocados, quase sempre responde bem aos olhares das pessoas.
A verdade é que Auggie tem uma família invejável. Seus pais e irmã têm um carinho tão grande por ele, que estão dispostos a tudo para fazê-lo feliz. Superprotetores, mas justos, estão sempre atentos a suas necessidades. Achei linda a forma como a Via, sua irmã, o trata, especialmente pela fase em que ela está, aos quinze anos de idade. Convenhamos, não é fácil fazer uma criança ou adolescente entender a necessidade de “ser posta de lado” pelo bem da outra, que é mais necessitada.
A criação de Auggie é marcante, mas seu humor e forma de ver as coisas é ainda mais fofo. O garoto não tem nada de bobo, apesar de ser o filhinho superprotegido. As respostas que ele tem, as piadas que conta são dignas de uma pessoa madura.
- Na verdade, concordo com a minha mãe. Acho que somos muito novos para namorar. Quer dizer, não entendo por que a pressa.
- É, também acho – disse o August. - O que é uma pena, sabe, com todas essas gatinhas se jogando em cima de mim e tudo mais...”
Alguém ainda duvida do caráter do garoto? Tem como não sorrir? Ouvi tantas pessoas que leram o livro dizer que choraram rios de lágrimas com o livro, mas mesmo com todo o apelo da vida complicada do Auggie, nada me emociona mais do que os momentos em que a Daisy, a cadelinha da família, é citada. Ainda acho engraçado, entre aspas, o quanto os animais provocam reações dolorosas e inexplicáveis nas pessoas que os amam.
Se quer saber se chorei, sim, um pouco além, e talvez, não pelo motivo certo, mas o que levarei comigo, como algo que o livro me deixou, é o quanto somos os mesmos. Eu, você, o Julian (você verá o porquê), o Auggie... somos tão parecidos com nossas diferenças. Quase sempre agimos errado achando fazer o certo, e ainda assim, com olhos tão jovens e críticos.
Leia Extraordinário se você duvida da humanidade. Leia, se você acredita no melhor. Leia, se quer sorrir um pouquinho e, ao mesmo tempo, sentir-se sensível. Leia Extraordinário se você for humano. Tenho certeza de que vai entender o que não há palavras para explicar.

3 comentários:

  1. Olá Camilla,

    Está na lista de espera esse livro e não paro de ler elogios sobre o mesmo, ótima resenha!

    Bjs

    Thaís

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  2. Olá Milla!!!
    Que resenha!!! Nossa.. já vi várias pessoas falando desse livro, mas nenhuma com tanta emoção ou enfática! A parte que mais me tocou foi logo na introdução, "Extraordinário pode ser qualquer coisa, de cômico a trágico. O que o leitor não pode ser, de jeito algum, é indiferente ao que o livro enreda. Tire qualquer conclusão a respeito da vida e tudo mais, só não reaja como se não fosse nada, pois Palacio foi brilhante.". Menina, que isso!!!! rsrsrs
    Fiquei arrepiada!
    Vou passar Extraordinário na frente dos "vou ler"...
    Beijos,
    Nica

    Drafts da Nica

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  3. Oi Camilla! Estou louco para ler esse livro! DAOSKDAPOSDKAPDOAKDAPODKASPOD! morrendo de rir com esse quote! Acho que vou me identificar muito com esse livro! Muito mesmo, nem vejo a hora de tê-los em mãos e poder ler! Eu não li sua resenha muito bem, porque eu quero que seja meio que uma surpresa! Mas quando eu ler eu venho aqui contar e também vou escrever uma resenha no blog!

    Beijos! 7hings

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