Resenha: O Lago Negro – Juliana Daglio


Verônica é uma garota problemática marcada por um passado traumático do qual mal se lembra, mas que lhe tirou o direito à total sanidade. Ao se mudar para o interior, depois de passar no vestibular, ela se depara com o local perfeito para se inspirar e, finalmente, transformar seus personagens imaginários em um livro. Lagoana é uma cidade nebulosa, úmida, habitada por almas quietas e pouco amigáveis. Porém, o clima obscuro não despertará somente a criatividade, mas também acordará seus fantasmas mais profundos. Prestes a perder o controle sobre sua trama e sua mente, Verônica conhece um estrangeiro de sorriso cafajeste e olhos azuis e, desconfiada de suas intenções, ela guarda segredo quanto ao seu livro, mas não sabe que Liam também tem os seus. Verônica nem desconfia, mas eles podem ser a chave para os mistérios que a rondaram durante toda sua vida. Assim, o lago negro de sua imaginação será, definitivamente, o estopim para toda sua loucura emergir. O que será que ele esconde no fundo de suas águas escuras?

O Lago Negro é um romance sobrenatural nacional, escrito pela autora Juliana Daglio e publicado pela Editora Arwen. A narrativa, além do sobrenatural, engloba ainda um interessante tema estudado pela Psicologia, mesclando o real e o surreal de forma irresistível.

Verônica até que tenta viver uma vida normal, mesmo após uma tragédia que lhe deixou um trauma incurável. Agora, ela não confia em si mesma e acredita que sua mente lhe prega peças o tempo todo. Apesar de tudo, ela acaba de ingressar na faculdade, sediada em uma cidadezinha peculiar onde os nativos mantém-se afastados dos universitários de forma grosseira e suspeita. Lagoana não é só um lugar sombrio e diferente, mas também o cenário perfeito para a inspiração que Verônica almeja para finalizar sua ficção. O problema é que as margens do Lago Negro escondem muito mais do que um passado obscuro e, pior ainda, eventos assustadores ligados a isso podem estar acontecendo novamente. Assim, Verônica passa a se desligar de tudo para desvendar o mistério de uma certa família e propriedade. Enzo, seu namorado de longa data, que a acompanha em sua nova vida de universitária, parece não ser o mesmo, mas novas amizades trarão sentido à estranha vida naquele lugar…

A história é narrada pela própria Verônica, que mesmo se sentindo confusa e desconfiada, se mostra uma personagem mais “pé no chão” do que a maioria que conheço. Ela encara o mistério que cerca a cidade como toda pessoa de veia investigativa: com curiosidade e muita bisbilhotagem. Ao mesmo tempo, surge Liam, tão bisbilhoteiro quanto ela, que alega estar ali por uma simples razão, embora pareça esconder alguma coisa. Os dois acabam nutrindo uma relação de amizade e cumplicidade, que acaba ajudando-os em dado momento. Já o namorado perfeito de Verônica, Enzo, se mostra uma pessoa bem diferente daquela descrita pela garota. Ele não é tão paciente e dedicado quanto se supõe e deixa muito a desejar como personagem (digno de figuração). 
 
Apesar do enredo sobrenatural, boa parte da trama é focada mesmo na investigação, já que alguns crimes (sobrenaturais ou não) nunca foram esclarecidos, razão suficiente para despertar em Verônica a necessidade de dar asas à sua loucura e embarcar em uma situação perigosa que pode muito bem estar ligada ao seu passado trágico. Insanidade ou não, é impossível fugir da terrível atração que as águas obscuras exercem sobre ela, mas ainda que fosse possível, deixa de ser uma escolha a partir do momento que algo muito ruim acontece a alguém próximo dela. Daí em diante, não há volta. O leitor se vê submerso no mistério do livro e da vida de Verônica.
 
A narrativa, apesar de dramática em vários pontos, é bem simples de acompanhar. Temos acesso a alguns capítulos que não narram especificamente a história de Verônica, mas sim aquela que a garota está criando. Uma série de coincidências deixam o leitor em alerta rapidamente, mas o desenrolar vai muito além de qualquer teoria que possamos criar ao longo da leitura. Fiquei surpresa com vários detalhes apurados ao final, e a leitura deixou um gostinho de “quero uma continuação”, apesar de ter sido muito bem finalizada.
 
Como de costume, a editora caprichou na capa e diagramação, e o livro conta até com algumas ilustrações. Leitura mais do que recomendada a todos.
“– O que eu faço para tirar tudo isso da cabeça? – Soltei a pergunta, sem pensar. – Essas ideias me perseguem como se fossem espíritos malignos! Eu queria desistir, Carlos, juro que queria, mas está cada vez mais forte.”

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