Estamos vivendo uma era de opiniões.
Por mais que eu queira deixar
o blog em um único foco (livros) está cada vez mais difícil não
falar mais e ater-me apenas ao que leio. A questão é: tenho
visto muita gente se arriscar a opinar sobre assuntos polêmicos,
des-graças
às redes sociais. Não há mal algum nisto, desde
que o respeito pela opinião alheia impere.
Qualquer pessoa deveria ter o direito incontestável de ter voz. Essa
voz, às vezes, é pura falácia, outras
vezes, inútil. Ainda assim,
divagar, contestar, analisar, ou mesmo criticar, deveria ser
saudável. E é, se o receptor souber filtrar o que vê por aí, já
que boa parte das frases de efeito não passam de boas porcarias. Um
assunto que tem me despertado curiosidade, mas também muita
irritação são os insistentes “ismos”. É machismo para lá,
feminismo para cá. Os rótulos estão a todo vapor e, se você não
se dignifica a pertencer a um, você defende o outro. Já vi inúmeras
discussões a respeito, nenhuma chegou a um entendimento.
Agressividade, intolerância e “síndrome do dono da verdade” são
palavras-chave para o assunto, infelizmente.
Muito tem se falado sobre feminismo
e machismo. Melhor dizendo, em machismo sempre se falou, mas nos
últimos tempos, o feminismo tem assumido a frente das discussões
que englobam os gêneros. O fato é que se tornou muito fácil
tomarmos lados e sermos rotulados por todo e qualquer comentário a
respeito. Que o mundo tem sido governado pelos “ismos” não me
restam dúvidas, o problema é a dimensão que esta guerra está
tomando. Você pode discordar, aliás é o que provavelmente fará,
mas até que ponto discussões do tipo nos levarão a algum lugar?
O que é?
Pelo que sei, o Machismo é a visão
do homem como o ser viril, detentor da força bruta e protetor da
família e dos mais fracos, em geral. Há quem diga que esta é uma
forma de subjugar o ser inferior, qual seja, a mulher. Seja o que
for, a questão é histórica e qualquer um que tenha estudado um
pouquinho há de reconhecer a primeira parte como um fato
incontestável. O homem como patriarca da família possuiria a
obrigação de zelar pela integridade dos seus (devemos ignorar
eventuais aberrações). Já o Feminismo é o movimento que busca a
igualdade de gêneros, o nivelamento dos direitos de homens e
mulheres. Aqui não se pregaria a supremacia feminina, mas uma justa
valorização do gênero, com direitos e deveres iguais aos dos
homens. Distorções ideológicas à parte, todos temos um pouquinho
de cada em nosso ser. É natural nos enquadrarmos em ambos, sem que
sequer percebamos. O grande erro é não reconhecer que tudo é uma
questão de interesse e oportunidade. A igualdade é
biologicamente/fisicamente impossível, mas para isso existe o bom
senso e as leis. O absurdo está no “se vocẽ não é uma coisa, é
outra”. Como assim? Quer dizer que um é o oposto do outro? Não é
o que dizem os estudiosos...
O que diz a História?
O homem sempre tomou a frente de
tudo. É o que diz a História do Mundo. O papel da mulher sempre
esteve ligado à procriação, cuidados do lar, etc. Para muitos,
lugar de mulher é na cozinha, no tanque, cuidando das crianças...
Homem que é homem não faz serviço de mulher, não chora, não
cuida demais da beleza. Eu não sei em que mundo essas pessoas vivem,
mas devo ter nascido errado. Nasci mulher e pretendo morrer como tal,
mas sou uma verdadeira aberração na cozinha, queimo o arroz ou o
transformo em papinha, não sei arear panela e só sei pregar botão
porque aprendi na marra a costurar as fitas da sapatilha de ballet,
dentre outras coisas que me desqualificam/desclassificam como mulher.
Meninas, vocês também são assim? Agora vamos à grande virada: sou
casada e o Amor da Minha Vida também não é muito convencional. Ele
lava, cozinha, limpa e ainda trabalha fora (dupla jornada, viu?). Ele
está errado? Sim, porque eu sou mimada demais. Não!
O fato é que nada disso deveria ser considerado extraordinário.
Custa muito pouco, ou quase nada, ajudar com as tarefas diárias.
Aposto que a maioria concorda, não é? Então porque ainda não
conseguimos levar isso para o lado de fora de casa? Quando um homem
faz esse tipo de coisa, ou ele é tratado como um ser de outro mundo
a ser venerado pela sociedade ou alguém diz que não é nada demais.
Quem entende? É claro que o que enumerei neste parágrafo é a parte
mais bobinha da discussão, mas só porque parece bobagem não quer
dizer que não seja a base de tudo. Quero dizer, se alguém olhar
para mim e disser que tenho que lavar isso ou cozinhar aquilo porque
sou mulher, essa pessoa vai ficar no vácuo. E não me venha com essa
de “feminazi”. Não faço parte de movimento nenhum que se
intitule como tal. Não faço parte de movimento algum, na verdade,
então, por favor, não venha me dizer que, então eu tenho
mentalidade machista. Está aí uma das coisas que me irritam
profundamente nessas discussões: rótulos.
A importância dos esmaltes...
Uma polêmica bem recente foi criada
em cima de uma propaganda de esmaltes. Uma PROPAGANDA DE ESMALTES!
Cada cor tem uma frase ao estilo “André fez jantar”. Opa,
problemas à vista. Isso não pode! É sexista. Ah! E seu falar que
não vejo problema algum nesses rótulos vão me dizer que sou
alienada, que não percebo as coisas por estar contaminada pelo
machismo e blá blá blá. Ai, gente, é sério isso? Vocês acham
lindo um cara se declarar cheio de romantismo, abrir a porta do carro
ou seja lá o quê vocês achem legal, mas o pobre do esmalte não
pode ilustrar a situação? Essas coisinhas sugerem que mulher só
pensa em esmalte e homens? Está aí uma ofensa que não me atingiria
se fosse real. E eu nem vou falar a palavra que começa com “caval”
e termina com “heirismo” porque, ao que parece, já tem até
pesquisa que comprova que isso é o tal do machismo. Aliás, minha
consciência está limpa quanto a isso: nunca fui de utilizar a
palavra, sempre preferi a gentileza, que se encaixa em qualquer
gênero ou situação. Ou vocês vão me dizer que nunca ajudaram a
recolher os livros daquele seu colega de sala que cairam no chão só
porque ele era homem e vocês são mulheres? A coisa toda está na
nossa cabeça. Ela é fechada mesmo, mas rotular gestos não inibe o
problema, ao contrário, desconfigura o resto de sanidade que alguns
descompensados poderiam ter, isto é, alimenta o ódio dos que só
precisam de um gatilho para agir. E isso, sim, é muito triste. E
grave. Estamos vivendo um momento em que o politicamente correto está
tirando a paciência até dos mais corretos. Não vamos sair por aí
implicando com tudo o que parece ideologicamente errado. Por várias
razões, cansei de argumentar sobre minha recusa em alterar palavras
como presidentE para presidentA. É feio, inútil e não altera o
real significado da palavra. Vamos buscar o que, efetivamente,
resolverá nossas crises!
Igualdade e TPM
Igualdade de gêneros. Expressão
bonita, não? A mulher vem buscando essa igualdade há algum tempo. A
teoria é linda. A mulher não quer ser propriedade de ninguém, quer
conquistar seu espaço e seu dinheiro, quer andar nas ruas sem o
risco de sofrer atrocidades sexuais, quer ter o direito de escolher
ser mãe ou não, na hora em que bem entender, quer ser o que quiser
e, se falhar, não ter que ouvir um “só podia ser mulher”. Sou a
favor de salários iguais para rendimentos iguais, do fim do
“mulheres entram de graça até tal hora”, do fim da violência
doméstica (me refiro a todo tipo, inclusive contra crianças, idosos
e, pasmem, homens). Também sou a favor do serviço militar
obrigatório para mulheres a partir dos dezoito anos. Nada mais
justo, não? Honestamente, eu até riscaria TPM do nosso vocabulário.
Aliás, muito me irrita ouvir tanta mulher utilizando essa expressão
ridícula como desculpa para mau humor. Não dá.
Nem toda mulher sofre de tensão pré-menstrual, então se você não
sofre disso não saia por aí justificando suas atitudes (e
anunciando nas redes sociais) como se fosse o maior dos sofrimentos.
Nem mesmo a dor do parto é a pior dor que existe, sabiam disso? Mas
a dor do outro é sempre menor que a sua... ou vocês ainda acreditam
no jargão “homem não presta”? Faça-me o favor! O homem é tão
ruim assim, a ponto de ser considerado escória da humanidade?
Quantos homens são seres humanos maravilhosos, que amam suas
mulheres e famílias, cuidam do planeta, fazem o bem ao próximo,
etc.? Tenham certeza: desvalorizar o outro para se sentir melhor não
é o caminho. Um situação bem quotidiana: homem galinha é uma
coisa, mulher galinha é outra. Sério? É a mesma coisa, sim. Ambos
estão rotulados por uma mesma atitude. Não há machismo ou
feminismo nisso, no máximo, leviandade, o que é outro assunto.
Na nossa sociedade...
Em termos de igualdade, nunca
estaremos sstisfeitos. Como mulher nascida e criada no Ocidente, com
direito ao voto e à escola, nem mesmo consigo imaginar o que é não
ter voz para, no mínimo, ter um título eleitoral. Não consigo
visualizar uma mulher ser proibida, ainda que pela convenções, de
sair ou conversar com um homem sem uma acompanhante. Nem sequer
imagino o que é ser vendida pela família e ter um marido arranjado,
muito menos ser mercadoria sexual. Nasci em um tempo e em um país
onde as coisas não são, especificamente, assustadoras para as
mulheres. No meu país a criminalidade é tão absurda que tem
números de mortos superior a lugares onde acontecem guerras civis.
Em alguns países, mulheres não podem sequer pegar um ônibus
sozinhas, pois podem sofrer estupro coletivo justificado. No meu
país, mulheres são estupradas o tempo todo, mas pelo menos, até
mesmo presidiários reconhecem o absurdo desse crime (nós sabemos o
que acontece com pedófilos e estupradores na cadeia). Palmas para
nossa sociedade? Não mesmo, mas poderia ser pior. Não sei se é
coisa do Ocidente, mas deparar-se com um homem na rua, em plena luz
do dia, e este dar um jeito de te apalpar e sair correndo, não pode
ser algo natural. Pois é, tenho certeza de que a maioria das
mulheres já passou por isso, algo que nada tem a ver com roupa,
idade ou beleza. Qualquer pessoa sã repudia esse tipo de coisa desde
sempre, mas o que mudou até agora? O que a maioria dos homens e
mulheres não sabem é que esse simples ato (passar a mão,
apalpar... sem que haja o “agarre”), que nem mesmo machuca, está
na lei, mas não é bem um crime. Trata-se de uma contravenção
penal:
Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa.”(Lei das Contravenções Penais)
Nojo, irritação e, sim,
impotência, resume a atitude da maioria das mulheres frente a algo
assim no dia a dia. Geralmente sentimos vergonha de sequer comentar o
ocorrido e, correr atrás do cara nem se fala. Algumas conseguem
responder a tal violência com mais violência, dando alguns
tapas/socos, mas nada que impeça que esse indivíduo faça de novo
em outro momento. E na balada, pode isso? É claro que não! É
consensual para os homens que esse tipo de situação seja natural?
Não, não é, e os homens normais vão te dizer isso. Homens das
cavernas existem, assim como mulheres das cavernas, que aceitam e
acham que algo assim é uma bela injeção no ego. Contudo, pessoas
normais e pensantes também existem, só precisamos ouvi-las. Tem lei
para quase tudo. Maria da Penha está aí, mas as vítimas ainda saem
perdendo. Sabe o que mais poderia ser lei? Toda mulher deveria ser
obrigada a aprender defesa pessoal ou qualquer tipo de luta assim que
começasse a ir à escola. Boa parte delas nem passaria por essas
coisas sem dar o devido troco. Mas cá estamos nós... discutindo
nome de esmalte. Entende o que quero dizer? Não adianta pegarmos uma
leva de situações e achar que tudo vai se resolver no grito, no top
less ou no ativismo de rede social. O mundo está uma droga, admitam.
Ruim para homens, mulheres e crianças. A distinção de gênero,
idade, religião, etnia é só uma triagem que vai dar no mesmo
lugar...
Nossos livros...
Livros: meu assunto preferido.
Poucas mulheres não gostam de romance. E, aí vai a bomba: a maioria
dos nossos romances favoritos é considerada machista. Sério? Aham.
A Joana, do blog Poderosas & Girlies falou, e muito bem, por
sinal, de uma coisa muito séria, que poucos percebem, neste post
aqui. Na postagem dela, romances da série da Abbie Glines foram
avaliados de forma simples e clara: eles colocam a mulher como objeto
sem que ela sequer perceba isso. Em que mundo isso é bom? Não acho
que a palavra correta seja machismo, mas o que quer que seja explica
um pouco da minha revolta com algumas autoras, que insistem em usar
donzelas em perigo, caras ricos e dramas familiares para obterem
sucesso. E lá vamos nós... Os romances que mais conquistam o
público feminino são justamente aqueles que colocam as personagens
como frágeis, dependentes de seus amores e, inteiramente passivas.
Argh. Pois é... deve haver uma estatística para isso em algum
lugar. Com a dosagem certa, tudo não passa de imaginação e
idealização. Em excesso, a coisa toda se torna doentia. E lá vou
eu citar Cinquenta Tons de Cinza de novo... a história é machista
porque vai contra tudo o que seria feminista? É errado sonhar com um
homem como Christian Grey? Isso faz de você uma mulher submissa, sem
personalidade e incapaz de sobreviver sozinha? É claro que não! Faz
de você alguém que escolheu um caminho, seja ele bom ou mau, e não
merece ser rotulada. Nenhuma mulher quer ser chamada de machista, mas
quantas sabem o que é isso? Mais uma vez, não se atenha a rótulos.
Sei que falei muito e talvez não
tenha dito nada. Tudo bem, pelo menos agora você já sabe que ser
apalpada na rua se enquadra em uma contravenção penal. Agora,
falando sério, seriam os “ismos” versões tão antagônicas
assim? Tudo o que é extremo atrapalha. Com as ideologias não é
diferente e o mesmo vale para os outros “ismos” que encontramos
em pauta por aí. Bom senso não mata, gente. Não custa nada dosar nossas opiniões, estudá-las e só levantar bandeiras por algo em que acreditamos. Machista e Feminista não deveriam ser ofensas ou palavrões, mas passaram a ser o rótulo que te permite, ou não, ter suas opinões respeitadas. Não seja o tipo de pessoa que rotula, por favor.
E viva a Era dos
Ismos... só que não.
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